Nós que adoramos um documentário

capa

Título: Nós que adoramos um Documentário

Ed. Ouriversaria da Palavra, São Paulo, 2010

Poesia, 124 páginas

ISBN 978-85-905632-3-5

Faça download na íntegra

.

Direitos autorais: em domínio público a partir de 2017

Resenha: Nós que adoramos um documentário
Por Lilian Aquino, publicado no Le Monde Diplomatique

É possível um livro de poemas ser autobiográfico? Parece que não totalmente, já que o poema é a representação de algo, uma imitação da realidade, o que coloca o poeta como o tal “fingidor”, um falsário. Nesse sentido, o terceiro livro de poemas da escritora paulista Ana Rüsche, Nós que adoramos um documentário: uma autobiografia, se apresenta, de cara, como uma provocação. A alusão irônica ao gênero audiovisual “documentário” já nos dá a pista sobre essa falsa autobiografia, sobre o impasse de trazer a memória à superfície e transformá-la em realidade.

A partir dessa intenção autobiográfica, com a escolha de elementos reais, e também da impossibilidade de a poesia realizar um documentário, a autora tece considerações sobre sua infância, se coloca em um cotidiano do seu tempo presente e faz previsões para o futuro.

Dividido em três partes, “I – Município de Ubatuba, janeiro de 1983”, “II – Município de São Paulo, outubro de 2009”, “III – Município de Ubatuba, janeiro de 2037”, o livro traz belos poemas, de uma melancolia latente, em que a chuva e as cores de tons cinzas ou um “amarelo solitário” são presentes do início ao fim: “Rogamos tanto às noites que se faça novamente escuro”.

Nessa Ubatuba da infância, é a menina cor-de-rosa que não usa biquíni, não quer ficar “falada” e é invisível aos meninos, uma água-viva translúcida. A questão do corpo feminino segue suas problemáticas no tempo presente da escrita, em São Paulo (2009), com as intervenções cirúrgicas, ou um corpo etéreo, virtual do futuro.
Ana Rüsche, neste novo livro, mantém a questão do feminino como um eixo temático de sua obra, com dicção própria, em que a clareza e, às vezes, a crueza de seus versos abrem diversas leituras e provocam o leitor. Mas aqui, diferentemente de seus livros anteriores, a complexidade de seus poemas é buscada por meio das pequenas tristezas de uma vida, quem sabe real, mas também inventada como forma de enfrentamento de uma personagem inquieta e incomodada

*   *   *

Livro de poesia. Publicado em 2010 pela Editora Ouriversaria da Palavra, editora independente capitaneada por Beatriz Galvão. Obteve o apoio do PROAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Artigos e resenhas

Documentário em preto e branco – nós que adoramos um Documentário. Lilian Aquino, Le Monde Diplomatique Brasil, 2011. [leia aqui]

.

Os indícios da perda: Uma leitura de Nós que adoramos um documentário, de Ana Rüsche. Eduardo de Araújo Teixeira, Revista Z cultural, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ , v. VII, p. 1-3, 2010. [leia aqui]

“Em Nós que adoramos um documentário, Ana Rüsche parece levar a termo esse desejo, posto aqui na epígrafe, de ser poema. Partindo de um título que anuncia um texto que se propõe documental, Ana Rüsche cerze uma intrincada autobiografia poética, menos lírica e mais prosaica, embaralhando formas, tencionando limites entre poesia narrativa e lírica discursiva. Memória, presente e futuro sci-fiction se entrelaçam na construção da paisagem interior de um ser em crise, posto que o livro orbita e se distende a partir da experiência de um trauma”.

..

Leia, escreva e retorne o livro. Edison Veiga. O Estado de São Paulo, coluna ‘Paulistices’, 13 de dezembro de 2010. [leia aqui]

“Em uma era em que “colaborativo” virou moda – principalmente em se tratando de internet –, a poeta paulistana Ana Rüsche teve uma ideia inusitada: lançou um livro de poemas, Nós Que Adoramos Um Documentário, que não termina com a leitura. “Aqui, há um convite expresso: caso queira escrever uma outra autobiografia nestas folhas, eu ficaria muito feliz em recebê-la”, diz o texto de apresentação da obra.”

.

Da incompletude em “Nós que adoramos um documentário”. Edson Bueno de Camargo. Blog Inventário de Naufrágios, 15 de novembro de 2010 [leia aqui]

“Ao terminar de ler Nós que adoramos um documentário de Ana Rüsche, edição da Ourivesaria da Palavra, ficamos com uma sensação que nos falta algo, como se tivesse sido extirpado qualquer coisa de dentro de nosso ventre que nos era importante, mas não lembramos o que foi tirado. Como se sofrêssemos um aborto, sem ao menos ser possível engravidar. Uma esterilidade filosófica e social, que nos leva a negar nossa realidade ou tentar permanentemente transformá-la”..

.

Nogueira, Rüsche & FLAP. Dirceu Villa. Blog O Demônio Amarelo, 15 de novembro de 2010 [leia aqui]

“Dividido em três partes, ligadas pela cidade de Ubatuba (com caiçaras, turistas, a água & Mnemosyne auxiliando a poeta), finge uma biografia q é & não é, o familiar estranho daquele sábio Heráclito. Aparecem motoboys, pesadelos hospitalares, a laranja solar de Louis Zukofsky, Alberto Guzik in memoriam no Monólogo da Velha Apresentadora, de Mirisola. O livro é a resposta da vida à morte”.

Nós que adoramos um documentário e Mergulho às avessas. Programa Arteletra Literatura da TV São Judas, Canal Universitário. Com apresentação de Maria José e participação de Ana Rüsche e Andréa Catrópa, março de 2013 [assista aqui]

Rolar para o topo