Cinco conselhos para melhorar o ritmo do teu poema

Prólogo

Devia escrever sobre o livro novo. O Furiosa. Meu pequeno desbunde em vermelho que saiu do prelo. O livro mais bonito dos últimos tempos. Mas a escrita se escreve em caminhos misteriosos. Daí hoje o tema é outro e o mesmo

: dei uma aula gostosa no sábado. Na oficina Mão na Massa, no bar Patuscada, para a Alice e para o Renan. O tema era dos que mais adoro, som e ritmo na poesia. Se lá tenho alguma especialidade pós-moderna, poderia ser essa. Ouvir muito. Até sentir o poema por dentro. Deve-se a minha carreira frustrada de cantora (e a uns tantos muitos e muitos anos de música clássica, o Sarabanda não se chama assim à toa).

Depois da aula, encontrei o querido Dirceu Villa para entregar um exemplar do Furiosa, pois ele tem uma padrinidade sobre o livro. Fomos tomar cerveja e bater papo na Choperia São Paulo, onde será o lançamento do livro no dia 7 de maio, tem ainda quase um mês.

Bom, entre ales & ales, conversamos muito a respeito de “como ensinar ritmo na poesia”. Antes de tudo, as pessoas trazem geralmente aquela ideia parnasiana engessada e chatinha de métrica – quem aguenta metrificar se o metro não bate por dentro do corpo de quem escreve? Ou então uma visão da rima bastante óbvia. No máximo, citam o João Cabral. Fizemos uma listinha. Aí vai.

ritmo

Cinco conselhos para melhorar o ritmo do teu poema

Seguem aqui três conselhos do Dirceu sobre o tema “como melhorar tua relação com ritmo”:

[1] Coloque uma nova letra em uma música que vc conhece. Guie-se pela melodia, pelo teu ouvido. Assim, vc desautomatiza um pouquinho a escrita, se deixa soltar.

[2] Escreva a mão. Passe a limpo muitas vezes. O motivo é simples: a velocidade de escrever a mão é outra, vc pensa com mais calma, incorpora a dúvida no gesto. Acrescento: risque, mas deixe um risco limpo, assim vc conseguirá recuperar o que escreveu antes. Nem todas as mudanças de rascunho são para melhor. No computador ou no tecladinho, a gente perde essa dimensão (com exceção das pessoas loucas que amam o “controlar alterações”, certamente das funções mais controversas do windows word). Adoro a técnica dos guardanapos no bar. Carregue caderninhos. Canetas. Tenha orgulho da tua caligrafia.

[3] Quer metrificar algo? Leia em voz alta muitas vezes um poema com a métrica desejada. Toca Camões! Até vc sentir a métrica dentro da tua cabeça. E não ficar na pira de contar sílabas como naquelas provas de literatura em que as pessoas de humanas se saem tão mal…

Meus dois conselhos:

[4] Fale versos em voz alta na rua. Enquanto caminha. Enquanto pedala. Não precisa gritar e fazer performance, mas vai falando. Testando, mastigando, vendo se encaixa. O som, o ritmo. Dirceu ainda acrescentaria: nunca leia poemas mentalmente. Poemas são feitos para serem lidos em voz alta! Ou grande parte deles.

[5] Ouça no repeat uma música. Durante dias. De alguma forma, aquele ritmo te contagia. Faço isso com tanta frequência que merecia uma internação psiquiátrica se não fosse o advento dos fones de ouvido – minhas orelhas, meu corpo, minhas regras. Para dar um exemplo, até escrevi sobre minha fixação por Dog days are over (Florence and the Machine) e o processo criativo.

Bem, apliquem os conselhos por uma semana e me contem como foi, sim?

Créditos: a foto extraordinária do unicórnio punk na praia é do Charles Rodstrom, quem agradeço muito pelo copyleft via flickr!

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